Efeito Werther e Efeito Papageno: o que são?
Em um mundo conectado em rede 24 horas, nos acostumamos a receber e compartilhar diversas notícias sobre inúmeros lugares do mundo. A barreira geográfica torna-se mais “fina” e transponível. Nisto, não é incomum nos depararmos com notícias de mortes voluntárias que atingiram uma grande repercussão. Mas, é preciso tomar cuidado! Notícias sensíveis quando espalhadas de forma descuidada podem gerar “gatilhos” para diversas pessoas.
O compartilhamento de notícias de mortes voluntárias pode gerar o famoso Efeito Werther. Para quem não está familiarizado, o efeito Werther possui este nome devido ao livro Os sofrimentos do jovem Werther do autor Goethe. Após a publicação, houve um aumento significativo do número de mortes por suicídio, o que gerou uma atribuição destas mortes ao livro. O efeito Werther significa um aumento no número de suicídio após uma notícia sensacionalista ou detalhada de alguma morte voluntária.
Porém, diferente do que muitas pessoas podem pensar, não se trata de um “contágio” propriamente dito. Como nos lembra o autor Nilson Netto, muitos escritores tem a capacidade de captar um sentimento comum à época em que vivem colocar isso em uma história (no exemplo de Goethe, a Alemanha vivia um momento desolador), sendo que não é incomum nos emocionarmos lendo um livro, ouvindo uma música ou assistindo um filme/série. Portanto, podemos dizer que o livro de Goethe levou as pessoas que já vinham sofrendo por inúmeros outros motivos, se identificarem com o sofrimento do personagem.
Em contrapartida, as artes em geral não possuem só este efeito de “contágio”. Encontramos também na literatura científica o “efeito Papageno”, que carrega o nome de um personagem de uma ópera composta por Mozart intitulada “A flauta mágica”. Nesta obra, o personagem Papageno planeja tirar a própria vida, porém três garotos o convencem a abdicar desta ideia. Conforme explica Aramita Greef, o efeito Papageno se refere a uma diminuição no número de suicídios após uma notícia/conversa responsável, ou que demonstre superação, suporte e/ou apoio para as pessoas.
Vamos lembrar também que este assunto (suicídio) é um fenômeno multifatorial, ou seja, possui diversos aspectos, causas, dentre outros, ou seja, não é um assunto simples ou que podemos atribuir um fato como o “gatilho”. Nunca é só um acontecimento isolado, mas um acúmulo na história de vida da pessoa. Portanto, no estudo deste fenômeno, também é importante levar em consideração a história de vida de cada pessoa, acolhendo a sua dor e entendendo-a como singular por meio de uma escuta atenta e empática.
Por isso, a OMS destaca alguns cuidados que devemos ter quando são noticiadas ou compartilhadas notícias sobre suicídio nas mídias digitais, sendo elas especializadas ou não. Coloco a seguir algumas dicas e orientações que devem ser seguidas para evitar o sensacionalismo e o chamado efeito Werther.
Nunca utilizar fotos do falecido; evitar “links” para fotos, vídeos e áudios. É preciso de um cuidado maior ao noticiar mortes voluntárias de pessoas famosas;
Declarações detalhadas sobre o fato devem ser evitadas. Informações sobre métodos e locais contribuem de forma negativa, pois estes geralmente são procurados por outras pessoas para repetir o ato;
Não atribuir culpas, romantizar ou noticiar de forma sensacionalista. Além disso, evitar colocar o ato como “sucedido” ou dizer que a pessoa “encontrou paz”.
Mas bem, se isto é o que não devemos fazer, o que então é o recomendado? Bom, é preciso ter “bom senso” e ser sensível com a dor do outro. Evitar demasiados detalhes, é prioridade focar em indicar locais para que as pessoas afetadas pela notícia possam procurar ajuda (clinicas de saúde mental, CVV, CAPS, UBS e demais serviços de saúde), assim, é possível disseminar sobre o assunto de uma forma responsável, fazendo com que cada vez mais as pessoas, busquem ajuda e cuidem de sua saúde mental.
Estas são algumas das orientações encontradas em manuais da OMS. Para aqueles interessados, as referências abaixo são ótimas leituras. O intuito deste texto é poder contribuir para a prevenção e desestigmatização do assunto.
Pretendo continuar escrevendo sobre o tema em próximas edições.
No demais, lembre-se que você não está sozinho. Até a próxima.
Fiquem bem!
Psicólogo Willian Rosário
CRP 12/24202
Referências
BERTOLOTE, José Manoel; DE DE LEO, Diego. O suicídio e sua prevenção. Editora UNESP, 2012.
NETTO, Nilson Berenchtein. Suicídio: uma questão de saúde pública e um desafio para a psicologia clínica: Parte I. In: CFP. Conselho Federal de Psicologia. O suicídio e os desafios para a psicologia. Brasília: CFP. p. 15-24. 2013. Disponível em: < https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2013/12/Suicidio-FINAL-revisao61.pdf>
OMS (Organização Mundial da Saúde). Preventing suicide: A resource for media professionals. 2008.Disponível em: <https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/258814/WHO-MSD-MER-17.5-eng.pdf?sequence=1>
GREFF, Aramita Prates et al. Saúde mental e atenção psicossocial na pandemia COVID-19: suicídio na pandemia COVID-19. 2020. Disponível em: < https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/41420>
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